sábado, 22 de maio de 2010

Capitulo 2

A Ponte

A tal ponte do Gurupá era um lugar escuro o suficiente para ter medo, era uma ponte grande, que passava por cima de uma rodovia, e bastante silenciosa. Fizemos o retorno e passamos pela ponte, parando em cima dela na direita. Jeff desligou o carro e saímos para conhecer o lugar.
- Nossa, que escuro! Não acredito que você vem aqui. – eu disse um tanto quanto espantada.
- Eu costumava vir aqui com um pessoal da faculdade, bebíamos até tarde – Jeff disse, e ele, assim como eu, havia começado Ciência da Computação, e sem grande sucesso, desistimos do curso.
- Caraca, olha aquela casa estranha – disse Caty apontando para uma casa com a luz acesa um pouco a frente da ponte, seguindo na estrada.
- Será que é assombrada? – eu disse rindo e fazendo cara de espanto logo em seguida.
- Só indo lá para saber
- Aham, certeza que vou lá, prefiro morrer com essa duvida
- Como você é medrosa – disse Dan gozando da minha cara
- Medrosa não, eu sou precavida, prefiro não correr riscos – eu disse rindo de lado
- Olha aqueles vaga-lumes! – disse Caty apontando para o meio de uma plantação de eucalipto
- Credo, parece que são gigantes! – eu disse
- Vaga-lumes de Itu – Disse Caty em seguida deu uma gargalhada.
- Vaga-lumes de Itu – eu repeti, gargalhando junto.
- Olha como eles piscam, é estranho
- Aham, parece que estão tão perto
- Do nada são vaga-lumes alienígenas
- Alienígenas? – Disse Jeff rindo e pegando a garrafa de Vinho que ele havia comprado – Podíamos caçar ETs um dia desses – ele encheu o copo e colocou a garrafa no chão e concluiu - ficar olhando para as estrelas, beber muito e ficar esperando que eles apareçam – ele completou e olhou para as estrelas.
- Ah claro, eu vou ficar olhando para o céu esperando humanóides de 1m30, de olhos vermelhos, estranhos, do nada, descerem do céu, RÁ – disse Caty ironicamente.
- Eu adorei a idéia, podemos ir num lugar bem longe da cidade e caçar Ets, beber muito, mas vai chegar uma hora que todo mundo vai ver ET de tão bêbados – eu disse rindo.
- Mas essa é a intenção – disse Jeff já colocando um copo com vinho na minha mão – E ai, quem mais vai beber?
- Eu, é claro – Dan disse e já aparecendo com um copo na mão
- Caty, você não vai beber? – eu disse mostrando o copo para ela
- Não, eu não bebo.
- Não precisa também – Dan disse rindo – você é louca sã.
Todos nós rimos, inclusive a Caty, incrivelmente, brincadeiras era algo que seria permitido.
- Então vamos beber e olhar os caminhões passarem na rodovia – eu disse me debruçando no braço da ponte.
Caty debruçou na ponte do meu lado, e do lado dela, Dan fez o mesmo, ficamos olhando as luzes dos carros e caminhões passando por um tempo, enquanto bebíamos e riamos de coisas fúteis do dia a dia. Mas quando demos por nós, Jeff havia sumido, ele não estava perto do carro, nem dentro dele, e estava realmente muito escuro, não havia lua no céu, o que deixava a noite bem mais escura.
- Cadê o Jeff? – Dan disse
- Não faço idéia – eu disse, olhando para os lados, sem enxergar nada
- Começa assim, sumindo um por um, daqui a pouco estamos todos mortos – disse Caty, rindo da situação e agarrando o braço do Dan
- Ele deve ter ido naquela casa estranha ali – eu disse apontando para a casa – Ele é doido de sair assim sem avisar!?
- Mas vai saber se ele realmente saiu daqui por que quis – A Caty realmente não ajudava quando o assunto era sumiço
- Ele deve ter sido abduzido – eu disse rindo – É bom que ele agora se realizou, ele queria caçar os Ets, agora ele deve estar com eles.
- Gente olha ali – disse Dan apontando para o escuro – O que é aquilo? – disse assustado
- Caramba, não quero saber – eu realmente não olhei para ver o que era, não fazia meu gênero, preferiria correr, e foi exatamente o que fiz, Dan, Caty e eu corremos para dentro do carro, eu pulei no banco do motorista, como se isso fosse útil, eu não tinha carta de motorista, e se eu precisasse ligar o carro, nós certamente morreríamos ali mesmo. Bati a mão no contato do carro, mas a chave não estava lá, comecei enfiar a mão em todo buraco que tinha no painel do carro, eu tinha que achar a chave, eu precisava da chave, não sabia por qual motivo, porque eu não tiraria o carro do lugar, mas acho que a chave seria um conforto em minhas mãos, literalmente. Enquanto eu procurava, Caty falava apavoradamente sem parar no banco de trás, e olhava pela janela para ver o que o Dan supostamente tinha visto, e Dan tentava achar a chave também, acho que ele pensava como eu naquele momento.
No meio desse sufoco, de batidas de mão no painel, dos gritos da Caty, Jeff aparece na janela, com a maior cara de despreocupado do mundo olhando pela janela do motorista, eu parei tudo o que fazia no momento, e olhei para ele, sem ação nenhuma, eu fiquei olhando para ele por uns 10 segundos, tentando me recompor, eu precisava de um tempo suficiente para entender o que estava acontecendo, o meu sistema cerebral é do tipo que falha quando leva susto, e o meu tinha falhado naquele momento olhando para Jeff, no meio da minha curta recomposição, eu só escutei o grito da Caty.
- JEFF! Seu louco, o que você tava fazendo no escuro? – ela já estava empurrando o Dan para sair do carro, fazendo-o sair, ele respirava aliviado e ria ao mesmo tempo da cena ridícula que tínhamos feito.
- Eu fiquei apertado, e fui “mijar” – ele disse antes de dar uma gargalhada – O que vocês pensaram? Que eu tinha sido seqüestrado?
Eu consegui me recompor, desci do carro, recuperei a fala e disse:
- Não sei, nós pensamos tudo, nós íamos deixar você para trás, o que o medo não faz com o ser humano? – eu disse rindo – e a propósito, onde ta a chave do carro, ta com você? – eu apenas queria esclarecer a duvida que martelava na minha cabeça.
- Ta no meu bolso – ele colocou a mão no bolso, tirou a chave e chacoalhou no ar como se estivesse distraindo um bebê.
- Idiota – disse Caty rindo.
- Dá próxima vez que quiser “mijar”, avisa, ok? – eu disse revirando os olhos
- Pode deixar – ele riu e assentiu
Ele pegou a garrafa de vinho que estava quase esquecida e colocou sobre o capô do carro, encostou do lado e voltou a beber, eu encostei do lado dele, enchi meu copo e comecei a beber com ele, Dan veio para perto de nós e fez o mesmo, mas ficou parado na nossa frente e a Caty sentou no banco do motorista com as pernas para fora e ficamos conversando e rindo da cena do suposto “terror” que tínhamos feito. Passava das duas da manhã, tocava rock no radio do carro que eu não conhecia, mas animava, bebemos toda a garrafa, não era o suficiente para que ficássemos de porre, afinal, uma garrafa de vinho, e três pessoas bebendo não rendia muito, mas era o suficiente para que satisfizesse nossa e principalmente a vontade do Jeff de beber.
Entre conversas, risos, carinhosos xingamentos, o que era normal entre mim e Jeff, começou a chover, uma chuva fina, não muito normal para a época do ano, afinal, abril não é mês de chuvas, mas pelo calor que fazia, a era chuva perfeita e necessária.
- Não! – eu cobri minha cabeça com as mãos – vai molhar meu cabelo – corri para o outro lado do carro e abri a porta, entrei e ficando de costas para Caty.
- Ah Mandy, é uma chuva de nada, nem vai molhar – disse Dan, colocando a palma da mão virada para cima, mostrando que era uma chuva fina.
- Mesmo assim Dan, não quero ter que secar meu cabelo amanhã de manhã
- Mulheres! – ele balançou a cabeça e riu
- Homens! – soltei o ar e revirei os olhos
- Eu não ligo para a chuva, eu quero é me molhar, eu quero tomar banho de chuva – disse Caty, saindo do carro, e indo se debruçar no braço da ponte.
Eu pulei para o banco de trás para me esticar então encontrei uma toalha pequena, eu peguei e a coloquei na cabeça, era um ótimo improviso de um guarda-chuva, então sai e me juntei a Caty.
- Essa chuva ta estragando tudo, inclusive meu cabelo – reclamei e também, numa tentativa de puxar assunto
- Que nada, se ela engrossar a gente tira a roupa e toma banho – Caty disse rindo
- Eu não tomo banho na chuva nem fodendo – eu disse rindo e balançando a cabeça. Por força do habito, peguei meu celular e olhei a hora, eram três da manhã, não hesitei em chamar o pessoal para ir embora, a hora era a primeira desculpa, a chuva era a segunda, haviam dois motivos para ir para casa, os dois motivos foram aceitos.
Entramos no carro, meu cabelo já estava um desastre, eu olhei no retrovisor e senti que me cabelo precisava ser preso, uma tiara, um elástico, qualquer coisa, comecei a mexer no porta-luvas na tentativa de achar algo, enquanto Jeff ligava o carro e íamos de volta para casa, só consegui encontrar uma caneta, era o suficiente, eu puxei todo meu cabelo para trás, enrolei a caneta nele e enrosquei-a no resto do cabelo.
Fizemos o mesmo caminho de volta, 30 minutos quase cravados, às 3h30 eu estava na porta de casa, desci do carro, acenei, e entrei, eu não percebi naquele momento, mas aquele era o inicio de um ciclo da minha vida.

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